O MENDIGO DA ESQUINA !!!

Todos os dias,
À mesma hora,
Sentava-se na esquina
Da rua movimentada,
Que era o seu mundo!
Aos pés uma lata
Com duas moedas,
Que caíam às primeiras notas
Da velha guitarra,
Que a garganta cansada,
Acompanhava de cor!
O velho rafeiro,
Deitado no passeio,
Completava o quadro,
Dormindo tranquilo
O dia inteiro!
Tinha conhecidos e amigos,
O simpático mendigo
Que tocava guitarra
E dividia com o cão,
O pão que restava
Ao fim da tarde!
Um dia,
A esquina perdeu o inquilino,
A guitarra desapareceu
E não mais se ouviu,
O cão não dormia
E passava o tempo a uivar!
O mendigo resolvera morrer,
Sem sequer avisar!
O mundo ficou mais pobre,
A esquina mais triste,
A lata enferrujou
E o cão tremia de medo!
Sem nada ter escrito,
Toda a gente entendeu
O testamento que deixou!
Rico ou mendigo,
Nobre ou plebeu,
Todos temos um segredo,
Que o mendigo escondia
E que a chuva apagou,
No dia em que morreu!!!

NOITE NO CAMPO !!!

Anoitece no vale,
Onde o silêncio é Rei,
Desce a neblina
Que refresca a vida
E acorda o mocho,
Que dormiu todo o dia!
O mundo,
Reza uma Avé -Maria
E lá ao fundo,
A noite avança
Sem pedir licença!
Adormece o vale,
Coberto de fumo branco,
Numa nuvem parada,
Que cheira a lenha queimada,
Daquela bela lareira,
Que aquece a casa gelada
E a panela do caldo verde,
Com um fio de azeite,
Um pouco de enchido
E um naco de broa,
Que enganam o estômago
E o corpo cansado!
Pouco depois,
Está tudo deitado,
A dormir
E às vezes a sonhar,
Que um dia,
O mundo vai mudar!
Até lá,as mãos calejadas,
Voltarão ao arado!!!

REGRESSO !!!

Quero deitar-me nas dunas,
Da minha velha praia,
Olhar o céu estrelado
E pensar que o tempo parou!
Quero ouvir
O marulhar das ondas,
A sinfonia das conchas,
Sentir a brisa fresca
Que sopra do mar
E das brumas que se adivinham!
Adormecer devagar,
Fazer do presente passado,
Pensar que a juventude voltou,
Que o amor vai chegar,
Ou mesmo sonhar acordado,
Que no mundo nada mudou!
Depois,se acordar,
Vou passear contigo,
De braço dado,
Descalço, na areia molhada,
De rumo meio perdido,
Sem saber para onde vou,
Se estou morto ou meio vivo!!!

HORIZONTE!!!

Lá longe,
Onde o céu abraça o mar,
Há nuvens de prata
Que nascem no horizonte
E uma vela branca,
De barco dourado,
Que aprende a navegar!
Lá longe,
Onde o Sol passa a noite,
Há nuvens douradas
E uma sereia que canta,
Que ninguém manda calar!
São nuvens brancas de esperança,
Ao lado das outras douradas,
Com tesouros meio escondidos,
Refúgio de promessas falidas
E desejos não cumpridos!
Lá longe,
Onde o céu abraça o mar,
É a terra de ninguém,
Onde o guerreiro vira monge
E nasceu o verbo amar!!!

Desejo!!!

Hoje,
Quero que chovam pétalas,
Que perfumem a Primavera
Que já chegou!
Quero  também,
Um terramoto de amor,
Que me faça esquecer a tristeza
E ter a absoluta certeza,
Que termina a minha dor!!!

MÃE ÁFRICA !!!

Filho adoptivo
Da Mãe África,
Morro de saudade
Da terra quente,
Que o mar banha
E o Sol ilumina,
Em simbiose de verdade,
Que só quem lá viveu,
Dirá que sente!
Terra castanha,
Em floresta verde
Ou deserto seco,
Mas sempre o mistério
De um Continente,
Rei dos contrastes,
Onde a pobreza
Não mata a alegria
E um sorriso,
Pode ser único alento!
Terra quente
Que o mar banha
E o Sol ilumina!
És mar de gente
Em estado de pureza,
Descanso eterno
De quem te ama,
Paraíso Divino,
Quando o coração pára
E a vida termina!!!

AVES NEGRAS !!!

Descansam aves negras,
Na margem do rio,
Que sinto correr,
Sentado na minha muralha!
Fazem-me frio,
Em dia Primaveril,
Mas não vão conseguir
Desviar as águas,
Que correm frescas,
No granito onde me sento!
Aves negras,
Que um dia vão morrer
E ser levadas
Pelas águas límpidas,
Que seguramente
Nunca vão parar de correr!!!

SÓ !!!

Só,
Profundamente só,
Num mundo que não é meu,
E que seguramente não escolhi!
Só,
Num mundo
Que não entendo,
Onde vou vivendo
O dia a dia
E as noites de breu!
Só,
À espera não sei de quê,
Talvez de tudo,
Ou até de nada,
Sem saber o porquê
De um mundo mudo,
Que nada me diz!
Só,
À espera
Que o milagre se dê,
Quando encontrar
O meu lugar
E poder ser feliz!!!

Pedido ao vento!!!

Quero que o vento,
Me leve a saudade
E no regresso
Me traga a verdade!
Estou farto
De um mundo mentiroso,
Onde tudo se resume
A um toque,
No ecrã configurado!
Estranha teoria do conhecimento,
Que reduz a zero
Qualquer sentimento,
Conjuga injúria
Com falácia manhosa,
Criando a esperança,
De uma vida que não quero!
Não te esqueças vento,
Devolve-me à vida,
Devolve-me à verdade!!!

NOVO MUNDO !!!

No dia
Em que este mundo acabar,
Tenho lugar reservado,
Num canto pequenino,
Mesmo a teu lado,
Para te poder abraçar
E dizer finalmente ao ouvido,
Que andei num mundo perdido,
Durante toda a minha vida!
No dia
Em que este mundo acabar,
Terei lugar reservado,
Num planeta diferente,
Onde vai caber toda a gente,
Que neste nunca teve lugar!

O MEU POÇO !!!

No meu poço de tristeza,
Flutua há muito tempo,
Uma angústia desgastante,
Afundam.se as duvidas
Que sempre tive
E bem lá no fundo,
Muito perto da nascente,
Descansam mortas,
A esperança e a certeza!
Com tudo o que fui perdendo
E já quase em desespero,
Resto eu neste mundo!!!

POBRE POEMA !!!

Sorriso nobre,
Olhar sereno,
Expressão viva,
Elegância habitual
Em retrato perfeito,
Quase de certeza
De um anjo terreno!
Poema pobre,
Quase envergonhado,
Para tanta beleza!!!

A MINHA MÃE !!!

Três letras,
Que encerram um mundo,
Uma palavra,
Que define tudo!
Já tive Mãe,
De quem resta o exemplo,
Uma saudade sem fim
E um encontro
Marcado no Além!
Aí,num velho templo,
Vou contar-te
O que nunca contei,
Dizer-te baixinho
O que nunca te disse,
Dar-te o carinho
Que te fiquei a dever
E amar-te
Como nunca te amei!
Até já Santa Mãe!!!

COVA NA AREIA !!!

Para além
Daqueles montes,
Onde a Lua Cheia
Costuma aparecer,
Escondem-se os meus segredos,
Vivem os meus desejos,
Resistem os meus sonhos
E mora a angústia
Que me asfixia,
Noite e dia
E não me deixa viver!
Para além
Daquelas dunas,
Onde o Sol vai nascendo,
Fiz um castelo na areia
E uma cova bem funda,
Onde enterrei
O que de mim resta
E escondi os meus defeitos!
Cova e castelo,
Levou-os o mar,
Num dia
Em que o mundo
Ficou mais belo,
A angústia desapareceu
E eu voltei a viver,
Com a sorte
Que Deus me deu!

O CHIAR DOS CARROS DE BOIS!!!

Ontem,Voltei a ouvir
O chiar dos carros de bois,
Nas vielas da montanha.
De madrugada
E ao fim do dia,
Numa sinfonia a dois,
Que se entranha
No peito entristecido
E e prolonga
Até à hora da partida!
Mas ontem de madrugada,
Ao ouvir o carro de bois,
Amei ainda mais a vida,
Porque a hora de partida,
Virou hora de chegada!!!