REGRESSO DA MADRUGADA!!!

 

Quando a madrugada regressar,

Acaba de vez a escuridão

E acorda para sempre,

Um novo dia!

Voltarás a ouvir a cotovia,

Logo ao nascer do Sol

E ao cair a noite de luar,

Regressa o canto do rouxinol!

Vai ser o renovar da liberdade,

O renascer do sonho adiado,

Nas asas de uma libelinha

Que pousará feliz no meu lago!

Acaba de vez a maldita saudade,

Regressa até á eternidade

O presente do indicativo do verbo amar

E a flor há meses reservada para ti!

PANDEMIA !!!

 

Onde param

Os sorrisos lindos,

Os olhos vivos

De olhar sereno,

Os lábios sensuais,

O verde dos arrozais,

Ou as nuvens brancas

Em céu azul?

Onde estão 

As ondas meigas,

A beijar a areia,

Em fim de tarde

De Sol dourado?

Alguém abriu

A porta do Inferno,

Em pleno dia

E pariu a pandemia!

Sento-me nas dunas,

A ouvir o vento,

O piar cansado das gaivotas,

Recordando velhas histórias

Perdidas no tempo!

Ouço o eco 

Das minhas memórias,

Deito-me com a tristeza

Com que vou acordar

E sonho ,ingénuo,

Que num dia de Outono,

Tudo vai voltar!

MUNDO NOVO !!!

    

Quero que o vento me leve,

Para o mundo com que sonhei,

Enfunando a vela do barco,

Que num golpe de sorte,

Agora mesmo apanhei!

Que esventre a água do mar

E suba mais alto que as ondas!

Quero viajar sem parar,

Até realizar o sonho,

Que se esfuma dia a dia,

Em teimosa melancolia,

Que deprime, cansa

E vai matando a esperança,

Que não quero ver morrer!

Quero que o vento me leve,

Para um mundo bem diferente,

Do mundo que me viu nascer!

NINFA ADORMECIDA !!!

Deixo que a corrente
Do meu rio de prata,
Me leve até à  foz
De um imenso mar de amor,
Onde uma onda me abraça
E me livra de qualquer perigo,
Permitindo o desejo
Já muito antigo,
De te poder dar um beijo,
Acordando a ninfa adormecida,
Que esboça um sorriso,
Quando feliz regressa à vida!

PARTIDA ANUNCIADA !!!

Um dia,
Vou partir,
Tão só como cheguei!
Espero ver um mundo novo,
Mais justo,
Mais humano,
Mais racional,
Muito menos informal,
Sem mesas redondas,
Nem falsas noticias no telejornal!
Um mundo desconhecido,
Onde estarei meio perdido,
Talvez um pouco desiludido,
Mas não faz mal!
Mudo de ambiente,
Esqueço a injustiça,
Revejo amigos de outrora,
Abraço ideais esquecidos!
Um dia vou partir,
Despido de preconceitos
E de velhos complexos,
Sentado numa nuvem branca
Rodeada de amores perfeitos!
Um dia digo adeus
E vou partir!
Está na hora!

PANDEMIA !!!

,


Nas ruas
E vielas
Da minha cidade,
Reina o silêncio
Das horas mortas,
As calçadas estão nuas
E só a luz do luar,
Consegue passear
Nas pedras molhadas,
Pelo cacimbo da noite escura!
Nas esquinas
Espreita a saudade,
Dos pregões
E dos ardinas
Que saudavam a madrugada!
O tempo parou,
A vida foi adiada,
O medo vai crescendo,
A morte espreita ladina,
A esperança tarda a nascer,
A dúvida dá cabo de mim!
Porque não quero morrer,
Sinto que não é o fim!

ÉS DIFERENTE!!!

És cascata
De água cristalina,
Num rio de amor
Que lava a alma
E que o luar ilumina!
És mistura de sentimentos
E emoção contida,
Em conluio permanente
Que resiste aos ventos!
Nascente de vida
Em permanente mutação,
Criança perdida
Em deserto quente!
Olhos que riem
Um sorriso triste,
Dúvida metódica,
Que pintas
Com mãos de artista!
Coração que bate,
Num peito quente!
És tudo isto
E muito mais!
Por isso és diferente!

25 DE ABRIL !!!

As balas,
Eram cravos
Encarnados,
Os desejos,
Sonhos adormecidos,
As armas desgastadas,
Afagadas pela aragem
De uma nova alvorada,
Eram seguro de coragem!
Botas nas pedras da calçada,
Sentimentos diluidos
Num mar de emoção!
Naquele dia
O Sol nasceu diferente,
Sorriu para toda a gente,
Saudou a Revolução
E bailou o tempo inteiro!
A vida tinha mudado,
O povo gritava vitória
E nova página de ouro,
Foi escrita na nossa história!

COCERTO NOCTURNO !!!

Quando o dia acaba
E aperta mais a saudade,
Há cascatas que choram
A sorte que não lhes sorriu!
Não tarda que chegue o silêncio,
A sinfonia nocturna
Em palco improvisado,
As musas que despertaram,
E as ninfas do Tejo sonolento,
Que o luar ilumina!
Por um curto momento,
Tudo parece verdade,
Que o sonho é realidade
E que o som do violino,
Nunca vai morrer,
Como num filme que já vi!
Até que chega o amanhecer,
As cascatas já não choram,
As ninfas partem ligeiras,
As musas adormecem ao Sol,
O concerto também termina
E o meu sonho acaba ali!

ORDEM DO CARDEAL!!!

Por lei do Cardeal,
Os indígenas recasados,
Devem ser obrigados
À abstinência sexual!
Mesmo que durmam
Na mesma cama deitados,
Nunca esqueçam
Que são recasados,
Não cedam a tentações
Que o Demónio apresenta
A qualquer hora,
Em bandeja de prata,
Carregada de pecados!
Ao mínimo desejo,
Que possa aparecer,
Mesmo que um simples beijo,
Afastem para longe
o pecado,
Não cedam à tentação,
Nem sequer mão na mão
E virem-se para o outro lado,
Ou durmam mesmo no chão!
Padres,bispos, cardeais,
Nunca na vida  foram pais,
Coitadinhos!
Apenas podem ser padrinhos
E benzerem-se uns aos outros,
Em honra do celibato!
Os outros,
Os recasados,
Dizem adeus ao sexo,
De manhã, à tarde ou à noite!
Cumpram a penitência,
Com todo o fervor,
Cantem canções de amor,
Mas tenham paciência,
Sexo é que nunca mais!
Digam-lhe adeus!
Será esta a lei de DEUS?!

LIVROS !!!

Uma estante
Cheia de livros,
De folhas douradas,
Testemunhos do tempo,
Que passou
Depressa demais!
Velhos amigos,
Silenciosos,dedicados,
Que vão passando
Ao longo de gerações,
Companheiros de uma vida,
De sorriso triste
E sabedoria eterna!
Velhos livros
De folhas douradas,
Que olham para mim
Horas seguidas,
À espera de um olhar,
Ou simples desfolhar
Que os faça sentir vivos
E lhes adie a partida
De uma viagem sem fim!
Velhos livros
De folhas douradas,
Velhos amigos,
De horas  passadas!

TRÁS-OS- MONTES!!!

Água cristalina
Desce a montanha
Em dia de Primavera,
Num ritmo indolente,
Que há mil anos,
Seguramente já o era!
Há no ar
Uma canção diferente,
Que o velho rochedo
Vai regendo
E os pinheiros verdes,
Saúdam de madrugada!
O Sol ajuda à festa
E inunda o vale
De reflexos dourados,
De uma cor diferente,
De que só eu conheço o segredo!
Aqui, vive-se a natureza
No seu melhor,
Respeita-se a terra
Que a água rega,
Admira-se a sua pureza
E fomenta-se o amor!
E quando as sementes germinam,
Há searas ondulantes
Que vão crescendo devagar
E sorriem como dantes,
Num adeus que não termina!

PEREGRINO !!!

No vento
Que sopra forte,
Ouço o eco sumido
Da tua voz,
Na nuvem negra
Adivinho o teu perfil,
Na chuva gélida,
Sinto as lágrimas
Das estrelas!
Ando perdido
Em bailado subtil,
Que o Sol escondido
Ilumina de cinzento,
À espera de encontrar
O meu destino,
Que alguém gravou
Na memória do tempo
E que me escapa,
Dia a dia, hora a hora,
Numa fuga premeditada,
Que faz de mim
Um eterno peregrino!

DESEJO !!!

O desejo,
É arbusto selvagem
E espontâneo,
Que nasce sem aviso
E cresce sem parar,
Numa espiral dirigida,
Em qualquer época da vida!
É erva daninha que faz bem
E vive na margem,
De um amor proibido!
O desejo,
É ternura,
É paixão,
É beijo
E mundo na mão,
Que bebe a frescura,
Na fonte da vida!

SLÊNCIO MALDITO !!!

Há um silêncio
Maldito,
Que me acorda
Na noite longa
E escura como breu!
Ruas desertas,
Árvores despidas,
Onde o medo passeia
Impune,
Na mesma viela,
Que ainda há pouco,
Era minha e tua!
Canto para não ficar louco,
A velha canção
Da minha infância
E peço a um Deus conhecido,
Que assuma as nossas vidas!
Grito bem alto,
Que não me sentirei perdido
E prometo resistir
Até ao fim!
Uma brisa morna
Passa por mim,
Garantindo que o novo dia
Não tarda a nascer
E amanhã de madrugada,
É hora do pesadelo morrer!

GRITO !!!

Chamo por ti,
Nas ruas desertas
Da minha cidade,
À espera de resposta,
Que chega num eco
De tristeza e saudade,
Que nada me diz!
Grito na noite escura,
Sem luar,
A minha revolta latente
E o direito a ser feliz!
A angústia está presente,
Ao entrar na dança
De um baile sem musica,
Onde só resiste a esperança!

SUBIDA AO MONTE!!!

Subi ao monte
Que me viu crescer
E olhei o Sol Poente,
Encostado ao horizonte!
Perguntei porque fugia,
O porquê
De neste mundo,
Não poder ser sempre dia
E termos de suportar,
 O frio e escuridão da noite!
Recebi como resposta
Um sorriso iluminado,
Um longo adeus disfarçado
E a garantia segura,
Que a esperança não ia ao fundo!

DESTINO MARCADO !!!

Chegam ondas
Do meu mar,
Que desmaiam
Na areia dourada,
Onde na maré baixa
Os búzios cantam,
As conchas dançam,
As sereias dormem
E as gaivotas brancas,
Voam sem parar!
Há de tudo um pouco
Nesse Paraíso escondido,
Onde descanso e medito,
Quando triste e só
Me sinto perdido,
Fugindo do mundo louco
E deixo correr o pensamento
Ao sabor do vento,
Rumo ao destino
Há muito marcado,
Num céu que é só meu!

DIA DA POESIA!!!

É dia da poesia!
Que cantem os poetas
Hinos á vida,
Ao amor,
Á felicidade,
Á natureza,
Á paz,
Á igualdade
E á liberdade!
Esqueçam a dor,
Eliminem a pobreza,
Matem a saudade
E eternizem a poesia,
Em sonetos de louvor!
Hoje é apenas mais um dia!

PRIMAVERA !!!

   A Primavera chegou!
Não há andorinhas,
As papoilas não baloiçam,
As ruas estão desertas,
Os campos menos verdes,
No céu uma nuvem pesada
E as pessoas estão escondidas!
Alguma coisa está errada!

DO OUTRO LADO !!!

Do outro lado
Da montanha da vida,
Ainda há o Sol
Que me vai faltando!
Aqui,
A noite vai caindo
E o dia
É causa perdida!

DESCOBERTA!!!

Afinal,
Os olhos continuam brilhantes,
Vigiados pelo sorriso lindo,
Num gesto
Que pensei findo,
Mas continua como dantes!
É a continuidade de vida,
No seu  melhor,
Segredo de um drama
Em cena perdida,
Que se afoga devagarinho,
Na espuma branca
De um mar de amor!

NOVO MUNDO!!!

Num dia triste
De Inverno,
Partiste
Sem um adeus,
À procura de um novo mundo
Que também seria o meu!
Subiste ao Céu,
Desceste ao Inferno,
Navegaste os mares,
Percorreste continentes,
Noite e dia,
Do Por do Sol
Ao nascer da Lua,
Só que o mundo
Nunca apareceu!
Triste sorte a tua!

POEMA PERDIDO !!!

E de repente,
Do nada
Nasceu uma flôr,
Que trazia uma mensagem,
Entre pétalas de veludo
E um perfume divinal!
Era o que restava
De um poema de amor,
Que alguém escrevera
Há muito tempo
E andou perdido no vento,
À espera de um dia chegar,
A alguém que o merecera!

DESTINO MARCADO!!!

Ondas de tristeza,
Desilusão,
Envelhecimento
E futilidade,
Num mar de saudade,
Onde me vou afogando,
Numa viagem sem retorno,
Com mais duvida
Que certeza!
Caminho cruzado,
Que virou paralelo,
A tender para infinito,
Sem rumo seguro,
Mas destino marcado!