Resta
Uma lágrima furtiva,
Límpida e altiva,
Que tentou limpar
Um passado doloroso,
Numa fase da vida
Do pobre ser humano,
Agora reduzido a zero,
Sobrevivendo sem motivo,
Sem amor, sem sorte,
Sem abrigo,
Esperando paciente,
O encontro com a morte!
Resta
Uma lágrima furtiva,
Límpida e altiva,
Que tentou limpar
Um passado doloroso,
Numa fase da vida
Do pobre ser humano,
Agora reduzido a zero,
Sobrevivendo sem motivo,
Sem amor, sem sorte,
Sem abrigo,
Esperando paciente,
O encontro com a morte!
Sopram ventos,
Que recordam os tempos,
Quase apagados
Na memória recente!
Nas folhas castanhas,
Caem chuvadas,
Que me lavam a alma
E misturam saudade
Com sentimentos antigos,
Diluídos no pó,
Que a tempestade
Espalha nos cantos perdidos,
Do reino da idade!
É o Inverno da vida,
Que me define o destino
E me faz sentir só!
Correm lágrimas,
Nas vidraças das janelas
Do meu quarto,
Talvez enviadas
Por alguém que está no Céu!
Não consigo deixar
De olhar para elas,
Pedindo-lhes
Que me lavem a saudade
Que me põe louco,
De quem ainda não morreu
E está vivo num passado,
Que continua a ser presente!
As cordas
Da minha guitarra,
Já não vibram
Como dantes!
Estão mais fracos
Os trinados,
Esqueceu alguns fados
E o som que está mais rouco,
Vai morrendo pouco a pouco,
Sem deixar de me avisar,
Que a musica de uma vida,
Está prestes a acabar!!!
Sento-me,
A olhar a luz do luar,
Reflectida na espuma das ondas
Da minha vida!
A brisa que corre,
Refresca-me a memória
E leva com ela parte de mim !
Afasto a hora da partida,
Pois quero viver
Para abraçar o mar
E cantar o silêncio
Das ondas que morrem
Na areia molhada,
Onde enterrei
Uma história secreta,
Que quero levar,
Ao dizer adeus
A um mundo cruel,
Que pouco me deu!
Quero viver abraçado ao mar!
Fujo do barulho,
Do mar de silêncio
Em que me afogo!
Tento esquecer
Mágoas antigas,
Pecados eternos,
Das noites perdidas
E de ideais reduzidos
A uma nuvem de pó!
O tempo vai passando,
Os amigos vão partindo
Dia após dia,
Em velha sinfonia,
DE partitura vencida!
Por isso estou só,
À espera da hora
Em que o horizonte se afaste,
O infinito se defina
E chegue ao fim,
A estrada da vida!!!
Deitado
Na areia do rio,
Ouço a canção dos búzios
E imagino-te
Na nuvem branca que passa!
Triste ilusão,
Talvez sonho,
Magia. feitiço
Ou Recordação!
Saudade que cresce
No tempo,
Dia após dia,
Sem parar,
Como a água
Que corre no rio
E só morre
Quando chega ao mar!.
Calam-se os búzios,
A nuvem passa,
O horizonte escurece
E acaba o dia!
Depois,
Quando amanhece,
Há um raio de Sol
Que renova a esperança,
Aquece a areia fria
E repete-se a dança!
Um sorriso renovado
Num mar de saudade,
Uma esperança
Que não morre,
Uma gaivota que dança,
Mil disfarces que enganam,
Num adiar da verdade!
E no entanto,
A vida continua,
Impávida e serena,
O céu está mais cinzento,
Caem estrelas
Na minha rua,
Em lindas noites de luar,
Na procura desesperada,
De velhos sonhos,
Que o vento levou!
Meio perdido,
Triste e desiludido,
Sento-me no molhe da vida
E tento voltar a sonhar!