ANGÚSTIA!

Vi duas lágrimas.
Que te escorriam na face,
Nascidas de um olhar lindo!
Eram pérolas perfeitas,
Saídas de um viveiro,
Que se adivinha na tua alma!
Leves,cristalinas,ternas,
Tristes,suaves e brilhantes,
Lembram o passar do veleiro,
No mar chão,
De uma tarde calma!
Mata a angústia,esquece a dôr,
Faz um pacto com a vida,
Volta a sorrir como dantes
E chegarás á conclusão,
Que não vale a pena sofrer,
Para se viver o amor!

ANGÚSTIA!

ANGÚSTIA!

ILUSÕES DE MÃE!

Sei que estás longe,
Mas sinto-te aqui,
Mesmo ao pé de mim,
Com a ternura de sempre,
De cuidados redobrados,
Pensando que não cresci
E que ainda não sou gente!
Continuo o teu menino,
De gestos atrapalhados
E sorriso inocente,
A quem contas uma história,
Ou inventas a cantiga
Que me põe de olhos fechados
E se grava na memória,
Para cantar toda a vida!
Vês caracois dourados,
Onde só há cabelos brancos,
Testemunhos de velhice
E da vivência já longa,
Com limites definidos,
Por Alguém que bem conheces!
POR TI,
Quero continuar pequeno,
Vivo,terno e traquina!
Que ninguém diga a idade,
Á minha saudosa Mãe.
No dia em que partir,
Ao deixar de ser terreno,
Será ao virar da esquina,
Que malandro e a sorrir,
Contarei toda a verdade!

O SINO DA MINHA ALDEIA!

Ainda há pouco ouvi
O sino da minha aldeia,
Que tocava a rebate,
Num bater descontrolado
De badaladas perdidas,
Como nunca tinha ouvido!
Seria lobo esfomeado
Perdido da alcateia,
Fogo posto no montado,
Ou alguém desiludido,
Febril,a gemer de dor,
Por ter vivido mil dias
Á procura de um amor,
Mil vezes também negado,
Apesar de lhe ser devido?
Calou-se o bronze cansado,
Sem ninguém ter percebido
Quem o fez vibrar assim,
Se foi Deus ou o Diabo!
Só quando a noite caiu
E o dia chegou ao fim,
É que alguém descobriu,
Que em desconto dos pecados,
Só poderia ter sido
Brincadeira de Finados!

SAUDADE!

Saudade,
É tudo o que resta,
No fim de uma aventura,
É tudo o que fica,
Retirado o que não presta,
É misto de dôr e de ternura!
Saudade,
É estado de alma sofrido,
Em dia de grande pecado
E certeza do regresso prometido
Á génese de um amor abençoado!
Saudade ,
É grito,é angústia,é esperança,
É música,teatro e também a poesia
Que dá vida á chama da lareira,
Unidos na mesma dança
Á volta da mesma fogueira,
Quando morre o sol e acaba o dia!
Saudade,
É tudo o que possas sentir,
Quando sonhas que regressas
Ao mundo do sorriso aberto,
Mesmo antes de partir!
Saudade é tudo isto,afinal,
Ou talvez não seja nada,
Porque é gosto e desgosto,
Como o sol na eira dourada
E a chuva no verde choupal!

ROSA ENCARNADA!

Na velha memória
Desgastada pela vida,
Gravei o perfume suave
Daquela pétala encarnada
Caída no teu jardim!
Murchara uma rosa perdida,
Amante da madrugada,
Triste,velha,cansada
E já sem qualquer glória!
Entendeu esperar por mim,
Para na hora da despedida,
Totalmente desfolhada,
Entre um sorriso amarelo
E uma lágrima sentida,
Garantir a sobrevida
Da sua pétala encarnada!

ROSA ENCARNADA!

CAUSA PERDIDA!

Naquela manhã cinzenta,
De um passado recente,
Cortei as amarras
Ao barco da vida,
Quando senti o teu adeus,
Na ponta do velho cais!
Naveguei sem rumo,
Em permanente deriva,
Á espera de algum gesto,
Que evitasse a partida!
Levou-me a corrente
E uma delicada aragem,
Mais brisa que vento,
Que me afastava de ti,
Sem me trazer a mensagem,
Nem me levar o lamento!
Quando a noite caiu,
Chegou a fúria dos deuses,
Do amor ,da morte,da vida...
Lenta agonia, de esperança
Sepultada nas ondas do mar,
Quando finalmente entendi,
Que eras uma causa perdida!

NOITE DE LUA NOVA!

Em noite de Lua Nova,
Apanhei um sorriso no ar,
Que a luz brilhante
De uns olhos amendoados,
Teimava em iluminar!
A partir desse momento
Quase sem dar por ela,
Retomei passos perdidos,
Perdoei-me velhos pecados,
Filhos de vícios antigos
E mandei parar o tempo!
A Lua mudou de fase,
O breu virou luar,
Iluminou-se o velho barco
De leme e vela aprontados,
E parti ao sabor do vento!

VELÓRIOS E FUNERAIS!

Tinha jurado não pôr mais os pés em funerais,velórios e outras cerimónias fúnebres,para que nunca tive qualquer tipo de apetência e que pessoalmente,correndo o risco de aumentar a taxa de desemprego no País á custa de eventuais gatos pingados despedidos,considero perfeitamente dispensáveis!É natural que os familiares queiram ter mais algum tempo de proximidade e devoção com quem se despede de contemporâneo,mas tudo o mais me parece um festival não poucas vezes de hipócrisia pouco razoável,um aliviar de algumas consciências mais pesadas e um ritual social com que lamentávelmente não simpatizo mesmo nada!Aproveitam-se os velórios para rever pessoas,espreitar reacções e atitudes,adivinhar emoções e em casos extremos e profissionalizados,contar os ramos de flores e avaliar a qualidade da urna!O defunto é quase sempre relegado para segundo plano,dando-se prioridade ao intercalar das novidades sociais,com algumas piadas nem sempre oportunas ou de bom-gosto e á tentativa de adivinhar entre os presentes e até ilustres ausentes, qual terá mais probabilidades de vir a ser figura de prôa no próximo velório!É claro que há excepções á regra e que naturalmente são salutares.Mas tudo isto a propósito da minha ida ao velório do Dr Gomes Rosa,onde não foi preciso muito tempo para me aperceber que para além dos familiares,estavam presentes muito poucas das pessoas que seria suposto lá estarem!E foi isso, que mais uma vez não entendi!Como é possível que um homem que dedicou a vida a tratar e a salvar milhares de pessoas,que chefiou no Serviço e na Équipe de Urgência centenas de colegas,que preparou outras tantas dezenas, a quem transmitiu o seu vasto conhecimento e a sua experiência de brilhante cirurgião,tenha tão poucas pessoas na hora da despedida!É no mínimo chocante e vem reforçar o que penso sobre a amizade real,a gratidão e o reconhecimento de uma actividade humanísta,a todos os títulos brilhante!DR Gomes Rosa: onde quer que repouse,quero que saiba que éramos poucos mas bons!Até sempre!

MAIS UM AMIGO QUE PARTIU!

Morreu um homem,um amigo,um chefe e um grande cirurgião!A minha sentida homenagem ao DR João Gomes Rosa!Algum pêso na consciência por não me ter despedido dele.Fui adiando premeditadamente,o que sabia ser a última visita, porque queria manter a imagem do homem, do amigo e do médico, na plenitude das suas enormes faculdades!Estou certo que nos voltaremos a encontrar e que o reencontro será selado com um enorme abraço e uma sonora gargalhada!Até qualquer dia, DR Gomes Rosa!

ABUTRES!

O abutre é uma ave de rapina,necrófaga,nojenta,oportunista,chulenta,mal-parida,do mais feio e desengonçado que se possa imaginar e certamente posta neste mundo,no dia em que o Criador farto de conceber coisas belas,entendeu equilibrar a criação de uma só vez!Até o vôo é desagradável e talvez por isso passa grande parte do tempo pousada nos ramos das árvores secas,espreitando a oportunidade de poder ter acesso aos restos mortais que outros animais, apesar de selvagens e carnívoros,consideram lixo!Confesso a minha velha idiossincrasia a este tipo de besta com asas e mais ainda quando me foi dado observar a fotografia de uma pobre, faminta e moribunda criança de um País africano,com um abutre a meia-dúzia de metros,pronto a banquetear-se com o mais que provável cadáver da pobre criatura!Calculem assim,o meu espanto,ao constatar de há uns tempos a esta data,que agora são os abutres a definir o que é lixo!Inicialmente nem queria acreditar ,mas a verdade é que a toda a hora me chega a confirmação dessa tentativa de mudança da nefasta espécie!Tentam sem qualquer tipo de escrúpulos,instalar a desconfiança e o caos na selva,para terem o acesso facilitado e sonhado á carne de primeira qualidade!Só que este tipo de estratégia, vinda de onde vem,nunca poderia resultar,antes conseguiu juntar leões,tigres,leopardos e até algumas hienas,que habitualmente disputam entre si as partes mais nutritivas e apetitosas das presas,numa causa comum:Eliminar de uma vez por todas os malfadados abutres,para que os céus fiquem mais limpos e o equilibrio social possa voltar a ser paradigma da vivência comum!No fundo os abutres do século xx1,esqueceram-se lamentávelmente,que a pior atitude que poderiam assumir,era tentar atingir os seus objectivos á custa da dignidade de um Povo com séculos de história, rica em crises, que sempre soube ultrapassar!Assim,é melhor que se mantenham em equilíbrio instável nos galhos caducos das árvores secas dos vossos desertos e que á falta de melhor se vão comendo uns aos outros!

MORREU UMA SENHORA!

Habituei-me a ouvir e respeitar a opinião expressa por Maria José Nogueira Pinto,embora normalmente em desacordo formal,nomeadamente no campo político.No entanto havia algo de muito especial,na entoação do seu discurso,onde quase sempre se percebia a determinação,coragem e frontalidade educada e inteligente, potenciadas pela convicção inabalável nos seus ideais!E fez questão de ser assim até ao fim!Continuou a trabalhar e a comunicar com os seus amigos e leitores,desprezando em absoluto a sorte que desde cedo terá percebido lhe estar reservada,embora seguramente acreditasse poder ganhar uma guerra teóricamente perdida!Fez questão de nos deixar numa última crónica o seu testamento social.Abalou-me tanto a notícia da sua morte,quanto me emocionaram as últimas linhas que escreveu!Morreu uma Senhora e sem qualquer dúvida,onde quer que esteja,merece que nada lhe falte!

MORREU UMA SENHORA!

A CRISE DOS MILHÕES!

Não deixa de ser curioso,que em tempo de crise,se ouça falar cada vez mais em milhões!É de muitos milhares de milhões a dívida portuguesa!Milhões pagou o patrão do Chelsea,para «legalizar o roubo»do treinador maravilha!Milhões recebem o Ronaldo e os Coentrões,para chutar a bola com o jeito que infelizmente sempre me faltou!Milhões são os euros que todas as semanas perseguimos no «jogo legalizado»,que nos leva os tostões, sem que pensemos que é limitadíssima a hipótese de virmos a acertar nos cinco números maravilha e nas duas estrelas cintilantes!É de milhões o lucro dos nossos bancos,tratados nas palminha das mãos,intocáveis pela sua idoneidade e importância social,autorizados desde logo a subir juros e spreads indiscriminadamente,para complicar a vida aos clientes e magnificar os lucros que fazem questão de apregoar periódicamente!Será que temos um estado dentro do Estado?Não entendo!Mas há uns milhões que bradam aos céus!O Vaticano acaba de declarar um lucro de muitos milhões de euros,que certamente irão dar maior sustentabilidade em tempo de crise,ao fabuloso tesouro acumulado ao longo de séculos,também ele intocável e seguramente alimentado pelas dádivas dos ingénuos fiéis,praticantes de uma religião que se diz protectora dos pobres e desprotegidos!A ostentação tem custos e a dignidade dos altos dignatários,nada tem a ver com a humildade que Jesus Cristo exemplificou soberanamente,ao nascer num estábulo,vivendo e morrendo tão pobre quanto tinha nascido!Esta é que não entendo de modo algum!Ou melhor,ajuda-me a entender porque ainda há milhões de pobres e esfomeados,total e deliberadamente ignorados por quem tinha obrigação de lhes deitar a mão!A verdade é que esses não têm qualquer interesse para os bancos,são pesados e desgastantes para as irmandades,não podem tentar a sorte nos jogos da Santa Casa e se quizerem dar uns chutos,têm que o fazer numa bola de trapos!Esses, também não têm qualquer interesse para o Estado,já que não são rentáveis em termos fiscais!É tudo isto que me leva a pensar que a velha crise moral e de justiça social, é muito mais grave e incorrigível, do que a crise que agora nos tocou!

TRISTEZA!

Já repararam que na última semana a tristeza marcou pontos?Foi triste a notícia da morte brutal, do cantor e actor Angélico,em especial para a geração dos morangos!A nova Princesa do Mónaco,de quem se esperava um sorriso real,parecia que tinha perdido nos últimos metros a medalha de ouro dos cem metros mariposa e afivelou uma máscara de esfíngica tristeza!Triste, esteve o dia de hoje,destoando em absoluto de um verão que prometia aquecer as almas enregeladas pela maldita crise!E para ajudar á corda do sino,também eu estou triste,sem saber bem porquê.Talvez se tivesse tido a sorte de ganhar o euromilhões,deixasse de o estar,até porque seguramente iria pôr muita gente de largo sorriso nos lábios!Vou continuar a tentar e até lá MORTE Á TRISTEZA!