HISTÓRIA VERDADEIRA!

Guardei as frias lágrimas,
Que te escorriam na face
E a dôr que trazias no peito!
Senti a angústia,o mêdo,
O desespero e a impotência,
Que te puseram sem jeito,
Quando morreu a esperança
Que havias alimentado
Com infinita paciência,
De prolongar a vida
E o amor que tinhas dado,
Áquela pobre criança,
Que agora está no além
E que ainda há muito pouco,
Eu ouvi chamar-te Mãe!

APOCALIPSE FINAL!

Quero a fusão completa,
De todos os corpos,
E também das almas,
Como a dos átomos,
Que deflagram a bomba,
Para que cantando os vivos
E dançando os mortos,
Haja festa de arromba,
Sem lendas nem mitos,
Em confusão total,
Para preparar nas calmas,
O Apocalipse final!

APOCALIPSE FINAL!

CRUZEIRO NA BATEIRA !

Vou fazer um cruzeiro,
A bordo de uma bateira,
Não que me falte o dinheiro,
Mas porque me apetece remar,
Contra ventos e marés,
Aproveitando a luz do luar
E o sabor da corrente!
É viagem sem destino,
Sem querer saber quem sou,
Nem perceber bem quem és!
E se o barco parar,
Por falta de força nos remos,
Ou porque a corrente virou,
Deixem-me adormecer,
Escutando as ondas do mar!

PRIMEIRAS CHUVAS !

Cai a primeira chuva,
De um Outono prometido,
Que me ensinaram a amar!
Estação da minha vida,
Transição do já vivido,
Trampolim para o que resta,
Antes que chegue a partida!
Não param de cair folhas,
Sopradas por vento forte,
Ainda com gotas da água,
Que as lavou antes da morte !
Gemem os ramos feridos,
Abanam os grossos troncos,
Mas vão-se aguentando as raízes,
Na estação das aguarelas
E dos tons mornos, sedutores,
Que nos tornam mais felizes,
Porque nos tocam a alma
E renovam velhos amores!

MENSAGEM SECRETA!

Está uma mensagem secreta,
Ainda bem enrolada,
Numa garrafa verde,
Que acaba de dar á costa!
De origem desconhecida,
Resistiu aos oceanos
E á fúria da tempestade,
Ao longo de muitos anos!
Quero fazer uma aposta,
Como lhe conheço a verdade,
Antes de ser violada!
Trás uma jura de amor,
De amor de perdição,
Que há quase meio século,
Alguém escreveu á mão,
Em poema sedutor!

HIPÓCRISIA !

Ontem,tive oportunidade de assistir quase em directo,á caça e agressão descontrolada seguida de assassínio ,com todos os requintes de malvadez e crueldade,de um ditador,déspota e assassino confesso,sem escrúpulos e de sanidade mental mais que duvidosa!Estamos de acordo em tudo,menos nos métodos utilizados,que apesar de tudo poderão ter alguma atenuante em função do ódio acumulado,mas que são seguramente pouco abonatórios e definem á partida ,uma sucessão que se adivinha difícil e conflituosa!Há no entanto,no meio de todo este imbróglio,uma série de dúvidas que me atormentam!Não foi este artista ,responsável pela queda de um avião comercial ,cheio de passageiros inocentes?Não foi ele o responsável máximo, por centenas de crimes cometidos contra o seu próprio povo?Não foi este energúmeno ,que em troca de mais uns litros de petróleo e uns quantos depósitos bancários oportunos,foi perdoado e reintegrado pela comunidade política internacional?Não foi também ele,recebido com todas as honras civis e militares,pelos Sarkosy,Sócrates,Cavaco,Obama,Zapatero e até o tarado Berlusconi?Então no que ficamos?A moral,a justiça e o equilíbrio mental,têm necessáriamente de contribuir para uma sociedade que se pretende saudável e civilizada,mas que infelizmente é um bastião de hipocrisia científicamente aceite,controlada e disfarçada,ao sabor da necessidade que as grandes potências têm de escoar armamento e de encher os depósitos de mais petróleo.Para tal,nada melhor que fomentar as guerras a prazo,fazendo avançar a juventude,que não raras vezes ,morre á custa das balas, morteiros e granadas,vendidas ao pretenso inimigo pelo seu próprio País,ou o que é mais grave,por meia dúzia de políticos corruptos, sem escrúpulos,que alimentam e engordam as suas contas bancárias,com notas encharcadas no sangue dos inocentes, que apenas e nalguns casos, receberão a título póstumo, a medalha criada para o efeito!Para esses, a mesma sorte de Kadafi,apenas na condição de serem julgados de acordo com as regras estabelecidas e aceites quando é conveniente,pelos Estados ditos civilizados!Já agora aproveitem a onda e condenem de vez a hipocrisia,á morte por enforcamento!

O ENCANTO DE UM SORRISO !

Finalmente,
Encontrei o sorriso,
Que há muito perseguia
E que teimava em se esconder,
Entre as ruas da cidade!
É um hino á poesia,
Bastião de ternura e de verdade,
Partitura de uma vida,
Que sem querer,
Se transformara, em bela sinfonia,
Num tempo que tinha parado,
Em gesto de pura magia!
Mas o que é bom acaba cêdo!
A música,a ternura ,a verdade
E o mistério que virou rotina.
Morreu o sorriso encantado,
Mas eu guardo o seu segrêdo!

PERFIL VIRTUAL !

Gosto do teu perfil,
Que apesar de virtual,
Se revela num comentário,
Quantas vezes disfarçado
De puro gesto solidário!
Adivinho-te o carisma,
O olhar penetrante,
Um sorriso de ocasião,
Alguma mágoa escondida,
Um impulso de vendaval,
A marcha firme e elegante!
Mas se assim é, então,
Porquê esconder o rosto,
Escamoteando a verdade,
Como se pagasse imposto,
Assumir a realidade?

PREMONIÇÃO!

Estava a chorar,
A pobre Mãe,
Enquanto o caldo fervia,
Numa panela de ferro,
Em lume brando de lareira!
O filho chorava também
E toda a gente sabia,
Que era de fome,
Sono e frio,
Que o pobrezito gemia!
O Pai que chegou cansado,
Exausto e impaciente,
Resolveu dar um berro
E ameaçou levantar a mão!
Foi-se apagando a fogueira
E arrefecendo o granito,
Enquanto alguém escrevia,
No brazeiro ainda quente,
Que em casa onde há fome,
Alguns choram e todos ralham
E ao contrário do que dizem,
Talvez alguém tenha razão!

ENCONTRO SECRETO !

Era miúdo inocente,
Quando te esperava
Á esquina da rua,
Observando os teus passos
Além do porte imponente!
Foste promovida a Raínha,
Em sonho de adolescente,
Num reino desconhecido,
Onde o trono era teu
Mas tu eras só minha!
Passavas com ar altivo,
Que não deixava reparar
No garoto que sofria,
Convencido que te amava,
Esperando o gesto meigo
Que pudesse acabar,
Com a mágoa que carpia!
Um dia,
Falhaste o encontro,
Sem que nada fosse dito,
Nem sequer teres avisado
Que a partir daquela data,
Decidiras ir embora,
Sem destino definido,
Nem regresso programado!
Dizem que o amor passa
E a saudade não mata,
Mas eu morri naquela hora!

O COMENTÁRIO !

Sinto falta
De um comentário,
Áquilo que tenho feito!
Tenho pena,
Fico triste,
Um pouco desiludido,
Meio parvo,
Meio otário
E até meio desfeito,
Sem saber o que sentiste!
Quero saber se pequei,
Se tenho o destino traçado,
Ou apenas falta de jeito
E um estilo ultrapassado,
Em tudo o que preservei,
Para te ser dedicado!

TRISTEZA!

Olho á minha volta
E só vejo tristeza!
São tristes os olhares
Pesados e melancólicos,
Tal como os tristes sorrisos,
Que nascem de lábios secos,
Em amálgama de esgares!
Tristonhas são as palavras,
Contendo um mar de revolta
E um mundo de incerteza!
Estão mais tristes as ruas,
Mais sujos os passeios,
Há menos luz nos velhos becos
E as paredes estão mais nuas!
Soam tristes também,
As notas da minha guitarra
E nas letras dos meus fados,
Há pouca uva e muita parra!
Migraram as andorinhas,
Calou-se o rouxinol,
Fugiram as cotovias,
Só ficaram corvos no mar!
Prolongam-se as noites
E encurtam-se os dias,
Da vida que os tem contados,
Com meio mundo tristonho
E o outro meio a chorar!

A VOZ DO BURRO!

Há dias,
Quando descia
A rua do Alecrim,
Perguntei ao burro
Que passava por mim,
Porque não parava de zurrar!
Olhou-me de lado,
De ventas a tremer,
Dentes sujos, amarelados,
De orelhas levantadas,
Dando coices e pinotes,
Até que resolveu parar
E me disse em voz rouca:
«És mais burro do que eu
Se não conseguires perceber,
Que no dia em que me calar,
Ninguém se lembra de mim»!
Disse adeus e foi embora,
Retomando a sinfonia,
A zurrar em dó maior!
Fiquei mais de uma hora,
Especado,no meio da rua,
Á espera que alguém me desse,
O desejado bom dia!
Ainda hoje estaria á espera,
O que não é de admirar,
Já que o burro tinha razão
E eu não aprendi a zurrar!

Q.I. DEGRADADO !

Confesso o degradar permanente do meu pobre Q.I.,em consequência do que me é dado ouvir,ler,comentar e por enquanto deduzir!Então,vamos lá a tentar coordenar ideias: Afinal ,o que se pretende com as medidas anunciadas ontem pelo Primeiro-Ministro,com um ar de Madalena arrependida?Mais uma vez, a crença natural de investir contra os funcionários públicos e os malandros dos reformados, a título provisório,pois daqui a dois anos será pior,surripiando-lhes desde já e sem qualquer hipótese de retorno,cerca de 20% dos seus vencimentos anuais,para fazer face á divida,aos desvios madeirenses e continentais,aos buracos e a todas as surpresas que seguramente nos esperam nos próximos tempos!A técnica é sempre a mesma!Alerta-se durante quinze dias para a inesperada derrapagem,repete-se até á exaustão os mortos e feridos que dela resultaram,para de seguida se aplicar o pacote premeditado,de uma tremenda violência e que seguramente dará mais uma machadada na classe média, que se vai finando sumáriamente, sem direito a um último desejo ou a uma derradeira prece!Ficam os pobres,os individados,os doentes e os indigentes de um lado,contrapostos a uma minoria de ricos,políticos,vigaristas,mafiosos e aldrabões,a maior parte deles com papel e responsabilidade directa na malfadada crise,totalmente impunes,uns por inerência dos cargos,outros pelo poder económico e influência social,alicerçada em grupos de pressão política,antigamente secretos e agora apenas discretos!Esses vão continuar do alto do pedestal, a gozar dividendos fabulosos,com olhar sobranceiro e de bons conselheiros,fomentando a fusão de bancos e banqueiros,a protecção das grandes multinacionais que representam e a redução das empresas de transporte!Venda-se a TAP, a REN, a GALP,A EDP e tudo o que fôr rentável!Em contrapartida a promessa falaciosa de não aumentar o I.V.A sobre a agricultura, as pescas e a viticultura,sepultadas há anos por imposição da U.E. e com o aval e o sorriso açoreano do então Primeiro-Ministro!A economia ,o desemprego,a fome e o desespero do cidadão comum que vive do seu trabalho,não têm qualquer peso neste processo!Todos estamos de acordo que é vital e inadiável resolver a grave situação em que nos encontramos,mas com equidade e alguma inteligência!Já agora, aproveitem o que resta do meu Q.I.,pois estou absolutamente convencido que os burros sofrem muito menos!

RESISTENTE!

Cansado de tanto sofrer,
Está na altura de parar!
Cortem-me as asas,
Arranquem-me a pele,
Prendam-me as pernas
E tirem-me os tapetes
Debaixo dos pés!
Aumentem os transportes,
Subam os impostos,
Inventem mais buracos,
Descubram mais desvios,
Acabem com os subsídios,
Mas não deitem foguetes,
Nem cuspam para o ar,
Pois mesmo de rastos
E preso por fios,
Não me apetece fugir,
Não quero morrer
E não vou desistir!

POETA ADOLESCENTE!

Acaba de chegar um poeta,
Ao fundo da minha rua!
Tem um ar dístraido,
Veste gravata e jaqueta
E é um verdadeiro perigo,
Quando pede namôro á lua!
Educado e bem parecido,
De face um pouco pálida
E olheiras bem marcadas,
Deu-lhe para embirrar comigo,´
Á frente de toda a gente,
Pensando que algum dia,
Eu lhe possa fazer frente!
Mêdo,inveja ou ciúme,
Em cena de adolescente,
Sem futuro e sem razão,
Já que tudo o que escrevo,
Nunca irá chegar ao cume!
Alegre-se o jovem poeta
E cante a sua canção!
Escreva versos,apure a rima,
Abra os braços ao amor,
Viva a vida enquanto é tempo,
Sem amargura e sem dôr,
Vivida momento a momento,
Já que o resto é tudo trêta!

SAUDAÇÃO A ANTÓNIO CARDOSO PINTO!

Uma frase,
Que nos toca bem dentro,
Uma foto,
Que nos estimula a visão,
Um poema,
Que nos sugira o lema!
Então,renasce a alma,
Ressuscita o pensamento,
Renova-se de vez o sorriso,
Transforma-se a tempestade,
Em noite calma
E a rotina que fomenta a agonia,
Em doce e mágico momento,
Cheio de ternura e de verdade,
Essência real de um novo dia!

PAGAMENTO ESPECIAL POR CONTA!

O meu ovo transmontano,
Veio a dar um cagaréu,
Que era um puto bacano,
Nascido á beira da água,
Em dia de festa rija,
Pela invasão dos Aliados!
De feto passei a réu,
Carregando a minha mágoa,
Por ter sido condenado,
Desde a hora em que nasci
A pagar adiantado,
O gozo dos meus pecados!

A FUGA DOS SEGREDOS!

Sinto a falta dos gemidos,
Dos ramos do velho sobreiro,
De rugas gravadas no tronco,
Pelas facadas do tempo!
Sentado no frio granito,
Tento regressar ao passado,
Á procura de segredos contidos,
Na revolta contida num grito,
Que mesmo a favor do vento
Não tem eco, nem tem retorno!
Percebo então desolado,
Que afinal tinham fugido,
Em marcha de passos perdidos,
De um presente sem futuro,
Ou de um futuro sem passado!

VIAGEM ANTECIPADA!

Queria que vivesses,
Sabendo de antemão
Que a morte se aproxima,
Sem dó nem piedade,
Pronta a levar-te de volta,
Para o céu donde vieste!
Tens á espera,o anjo da guarda,
Quase morto de saudade,
Desde o dia que o deixaste,
Pedindo que olhasse por ti,
Apontando o rumo certo,
Num mundo sem solução,
Onde o cinismo é Rei,
A hipocrisia é Raínha
E a pulhice,eminência parda!
Sorris num último adeus,
Em viagem antecipada
E eu fico mais pobre e só,
Á espera da minha partida,
Quando voltar a ser pó
E puder ir ter contigo,
Fechando a porta da vida,
Á espera que me possas abrir,
A pesada porta dos céus!

CANÇÃO DE EMBALAR!

Entendo melhor que ninguém,
O ruído do teu silêncio,
A tristeza do teu olhar,
A secura dos teus lábios
E um sorriso que é esgar!
Melancolia pura de Outono,
Em vigília permanente,
Numa noite muito longa,
Sem descanso e pouco sono,
Em agitação que faz lembrar,
A paixão de adolescente,
Onde o desejo é Rei,
Num reino de ilusão,
Até que a aurora
Anuncie um novo dia,
E traga a canção de embalar,
Que te irá adormecer,
Tentando imitar agora,
O que a Mãe tão bem fazia!

A VELHA E O BURRO!

Dei comigo a recordar algumas cenas vividas nos hospitais onde trabalhei muitos anos,nomeadamente a nível da urgência.A par de situações extremamente graves,que nos obrigavam a utilizar todos os conhecimentos adquiridos, todos os recursos disponíveis e quantas vezes a improvisar soluções,viviam-se periódicamente alguns casos hilariantes,mas também e não poucas vezes,comoventes.Foi o caso de uma senhora de idade, politraumatizada,vitima de um acidente de viação,que envolvera um automóvel de alta potência e a carroça conduzida pelo marido e movida pela potência de um velho burro,elemento essencial e companheiro fiel nas madrugadas a caminho das feiras,carregada de boa hortaliça e fruta fresca sem bicho,cultivadas a preceito e também com amor ,no sua pequena quinta.O marido ficara pior que ela,a carroça completamente desfeita e o burro inutilizado,tinha sido abatido ao efectivo!Dei naturalmente prioridade á observação e estabilização do senhor e só depois me dirigi ao S.O de mulheres,onde a senhora já estava medicada e relativamente bem.Mal tinha chegado á beira da sua cama,fui imediatamente interrogado sobre o estado do animal!Apanhado de surpresa,ainda pensei que se estivesse a referir «carinhosamente» ao marido,mas não tardei a perceber que a preocupação primária,era referente ao burro e não ao companheiro de uma vida!Escusado será dizer que não lhe dei a triste notícia da morte do seu animal de estimação,factor essencial na concretização do pequeno e velho negócio de feirante,que lhe garantira o sustento,durante muitos anos.A partir desse dia,passei a entender melhor a Deolinda,empregada muito antiga da Família,que nos ajudara a criar a todos,sublime cozinheira,de alma tão boa quanto ingénua,que apenas nos trocava pelos seus pássaros,coelhos,cães e alguma macaca vinda de São Tomé,com quem conversava horas seguidas,num dialecto que nunca entendi e sempre invejei!No entanto,aprendi com a sua atitude,a respeitar não só os animais,como as pessoas a quem a ingenuidade reforça a afectividade e conduz a uma espécie rara de vivência feliz!Talvez por isso ,acabei por entender e desculpar, a velhinha atropelada.

PAIXÃO!

Paixão é fogo que arde,
Mais forte que o do Inferno,
É ter visão dirigida
Sem nada mais enxergar,
É ver o Verão no Inverno,
É ficar quando se parte,
Morrer,sem perder a vida,
E pôr a alma a cantar,
Sem sequer abrir a boca!
É viver em ilha perdida,
Nos confins do alto mar,
Esperando que o tempo páre,
Á custa de mil carícias
E a vontade de te ver louca,
A rebolar na areia,
Até sentir que te enrolas
Nas malhas da minha teia!
É tudo isto e muito mais,
Mas cuidado,não percas tempo,
Já que um dia vais entender,
Que paixões leva-as o vento!