quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

NEUROSE DE INVERNO

Deixo que a alma suba no fumo branco da lareira acesa,onde ardem restos de uma velha oliveira,carcomida pelo tempo e pelos fungos oportunistas!Mais um dia de inverno,triste,chuvoso,negro,carregado de nuvens pesadas que teimam em viajar no céu escurecido,sem raios de sol.Menos um dia de vida,na já curta contabilidade decrescente de uma velhice anunciada que se aproxima a passos largos,como a noite que vai caindo inexorávelmente.Reparo nas brasas vivas e apostadas em reduzir a humidade que escorre nas paredes amareladas,que encharca os ossos e mantem o insuportável cheiro a môfo,amenizado apenas pelo arôma do caldo verde que fervilha na velha panela de ferro!Lá fora, um cão encharcado,tirita de frio e uiva, cada vez que a lua cheia consegue mostrar um ar da sua graça.Acende-se o velho candieiro a petróleo,acolitado pelas velas gastas,de pavio curto,que derretem a estearina e desenham pequenas lágrimas de cêra.Ouve-se o silêncio de um vale adormecido,agora carregado de nevoeiro,onde as relas e os grilos já não cantam e o rio invade as margens,arrastando tudo e todos numa fúria de força reforçada!Adensa-se a escuridão da noite,onde apenas a coruja tem direito a piar,marcando o terreno e mantendo em respeito o leirão atrevido que tenta chegar ao enchido fumado à lareira,onde as cinzas vão ficando amorfas e sem vida e o gato se enrola a ronronar.Termina a função do fôgo, indutor do sono reparador, animado por um sonho,onde na lareira da vida,as chamas permanecem altivas,as brasas aquecem a alma e as cinzas não têm lugar!

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