sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A MENINA CUSTÒDIA E O ZÈ DO BACALHAU!

O meu irmão António,dos poucos leitores assiduos e critico atento das minhas pobres crónicas,lembrou-me meio zangado,meio desiludido,que me tinha esquecido de uma criatura marcante da nossa infancia,nem mais nem menos,a menina Custódia!Posteriormente lembrei-me de outro artista,tambem ele altamente responsável pela nossa boa constituição:o Zé do Bacalhau!A menina Custódia,natural da Trofa,era uma personagem de caracteristicas unicas.Dedicada de corpo e alma ao próximo,de disponibilidade quase tão grande como o pêlo do bigode e barba que fazia questão de ostentar,virgem potencial e de ovários fracalhotes,passeava nas aldeias,abancando nas casas ricas,que lhe davam comida e guarida a troco dos serviços prestados,todos eles na área da doença ou das desgraças vulgares!Os azares alheios eram atração fatal.Onde quer que houvesse gripes,constipações,pneumonias,sarampos,varicela ou desarranjos intestinais,era certo e sabido que a menina Custódia aparecia com rapidez estonteante,oferecendo os seus préstimos na área da saúde e da santidade!Sempre que necessário,espetava fueiros nas nossas nádegas púdicamente desnudadas e esfregadas com alcool puro, preparando-as para as dolorosas,perigosas e intermináveis injeções de penicilina.Pericia nunca posta em causa,na preparação das papas de linhaça que nos grelhavam a pele e vigilante atenta, tricotava as meias de lã que não nos deixavam arrefecer os pés.Fácies de sofrimento permanente,dificil de encarar e que associado aos «ais» e profundos suspiros,funcionava como contra-fogo da desgraça alheia!Os resultados prácticos eram quase sempre espectaculares,nomeadamente quando aos conhecimentos e dedicação da menina Custódia se associavam colheradas de óleo de fígado de bacalhau,deglutido de olhos fechados e narinas apertadas,para evitar eventuais refluxos.É aqui que entra o Zé do Bacalhau,amigo de longa data do Pai Sereno,personagem com algum mistério e de aventuras nos lugres que navegavam nos mares da Terra Nova,onde devia ser o encarregado de espremer os fígados dos pobres bacalhaus, até ás ultimas consequencias!O resultado, eram litros de óleo posteriormente transportado em malditos garrafões,oferecidos á familia com ritual apropriado,agradecimentos eternos e sorrisos cúmplices,para nossa desgraça e descanso da Mãe Julia que nos queria saudáveis,corados e encharcados em vitaminaD para evitar raquitismos,nem que para isso tivessemos de vomitar as entranhas!Sem duvida duas figuras inesquecíveis,na altura pouco valorizadas porque conotadas com situações menos agradáveis,mas hoje recordadas com saudade respeito e gratidão.

5 comentários:

  1. Foi preciso ser o seu irmão a lembar-lhe de mais duas personagens tão importantes na sua infância.Pois deve ser dificil lembrar-se de tanta coisa...sim já lá vão alguns aninhos! :)))

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  2. Depois de ler todas as tuas "crónicas" apenas uma palavra EXCEPCIONAL continua eu sei que tens muito mais para contar

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