terça-feira, 12 de outubro de 2010

PALACE DE VIDAGO

Anunciada há muito tempo como convinha,mas só agora concretizada,a inauguração do Palace Hotel de Vidago,fez-me lembrar as noivas em segundas núpcias,vestidas de branco,recauchutadas para o efeito e parceiras de cama de alguns convidados!Também aqui,há várias semanas, dezenas de ilustres artistas da nossa praça,eram convidados a testar as novas instalações e a admirar a decoração badalada aos sete ventos,da responsabilidade de iluminados gestores do gosto alheio.Passeavam pelos corredores pintados de fresco e constatavam a fisionomia alterada do velho parque,amputado de algumas árvores mais velhas,derrubadas por intempéries,ou pela mão humana pouco crítica.
O campo de golfe,agora com 18 buracos,fazia a delícia de banqueiros de barriga cheia de «spread»e sapatos protegidos pelas taxas de juro,gestores no activo e no passivo,milionários nacionais,espanhois e internacionais,antecipando o que se deseja venha a ser mais um «ponto de encontro global»do capitalismo,dos seus agentes e das gentes de bem viver,comer e conviver!O povo,o bom povo transmontano,foi autorizado,por especial favor,a visitar o jardim que já foi deles,numa demonstração inequívoca de cínico e hipócrita gesto democratizante.
Tinha chegado, finalmente, o dia da inauguração oficial ,cem anos depois de uma falhada inauguração real!O senhor primeiro-ministro,não deixou créditos por mãos alheias e sem qualquer intuito eleitoralista,descerrou mais uma lápide de granito do Bragado,com data e nome gravados,precedendo magnífico discurso de louvores ao capital,que apesar da crise,se mantem activo e aberto a tudo o que possa ser rentável e passível de subsídio.
Meia dúzia de paspalhos,fora dos portões do parque,aguardaram pacientemente,que a comitiva de uma dúzia de carros do povo ao serviço dos governantes,desfilasse rápidamente,sem direito a qualquer gesto ou aceno mais solidário, com as reais dificuldades da maioria das pessoas deste pobre País!
O automóvel do primeiro-ministro parou frente à escadaria,subida descontraidamente,pelo ilustre governante,exibindo um fato provávelmente confeccionado em Paris, olhar distante mas atento a qualquer eventual buraco mais perigoso,que se pudesse juntar ao buraco do orçamento,a que a oposição de direita e até de esquerda se refere diária e injustamente!Flashs,fotografias em todas as posições e captando todos os gestos,garantindo a importância e solenidade do acto,abrilhantado pelo aplauso unânime e vibrante do patronato, convocado e convidado para o efeito.Efeito garantido e aval concedido ao mais alto nível,para o consumo de largos milhões de euros,numa remodelação nada justificável,muito menos em plena e badalada crise,aqui totalmente secundarizada e desprezada,pela vaidade dos gestores e a necessidade de aplicar e disfarçar lucros monumentais,consequentes á ingestão da cerveja que o Zé vai bebendo,para afogar as mágoas!
O incómodo numero de desempregados,as dificuldades cada vez mais evidentes da classe média,os cortes salariais,o congelamento de pensões,o aumento dos combustíveis,a redução das deduções fiscais e das ajudas sociais,o aumento permanente dos impostos e a mais que provável recessão,deixam de ter qualquer significado!O importante e redentor, é que os hoteis de luxo se multipliquem,os campos de golfe se redimensionem e os «spas» não sejam esquecidos,complementando os justos prémios de produtividade,assiduidade,disponibilidade e saudável e democrática rotatividade!É altura ideal para esquecer quantos já não conseguem gritar um protesto,seguramente devolvido pela fachada do majestoso hotel,ou impedido de chegar ao destino pelos atentos,numerosos e talvez bem pagos,seguranças!É esta a triste realidade do meu Paìs!

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